sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Encontro



Você me olha 
E não sabe os séculos que carrego 

Meus olhos negros e a pele cor de terra não disfarçam: 
em algum lugar das arábias surgiram meus antepassados 
Séculos depois, escolheram a península italiana para morada 
estabeleceram-se em Verona, ao norte, 
talvez fugindo de tiranos ou inimigos 

Passaram as gerações 
E veio o século 20 
com suas ditaduras, crises e a primeira guerra mundial 
Os navios europeus atravessam o oceano 
e para o novo mundo trazem os desesperados 
Aportam no litoral do Brasil 
Muitos seguem para o interior, a procura de um clima familiar. 
Minas recebeu vários, incluindo os meus 
A terra das montanhas promoveu o encontro entre avós e pais 
E, por fim, estou aqui, no coração do país 
Olhando seus olhos castanhos que também carregam histórias antigas 

Seu passado é ainda mais cigano 
e Deus teve algum trabalho para moldar-lhe o corpo e o espírito 
Minha Afrodite: 
Moçambique, Palestina, Itália, também viram seus antepassados 
até se encontrarem em Portugal 
No fim, talvez os mesmo navios que carregaram os meus também trouxeram os seus 
Quem saberá? 
Nossos antepassados podem ter sido parceiros nas cartas, nas danças e festas 
Quiçá tiveram pequenos namoros a bordo ou refletiam juntos sobre o futuro, 
fitando o mar até se despedirem no porto 

Os seus escolheram como morada Belém e São Luís 
e depois vieram como tantos para o cerrado de Brasília 
Finalmente nos encontramos aqui, nesse lugar improvável, 
porque nem sempre as belas histórias começam em belos cenários. 
Nessas horas, para que lembrar que carregamos a história da humanidade? 
Como todos, não somos filhos apenas de nossos pais 
Assim foi o caminhar até aqui 
E o brilho que está em ossos olhos, sinaliza: começa agora a nossa história.

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