segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
sábado, 28 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Iminente
“Quando a vista ficar confundida,
e a lua se eclipsar,
e o sol e a lua se unirem, nesse
dia o homem gritará:
para onde é que se pode fugir?
Oh, não haverá refúgio!”
Surata
75
Nos tempos de minha
infância alimentava, à noite , uma náusea
sem nome .
Achava em silêncio – não havia palavras
suficientes guardadas em mim para desfraldar esse sentimento – que algo
de inevitável estava próximo
de se consolidar .
Algo
ruim .
Não
sabia dizer se achava que
o escuro do quarto iria espalhar-se sobre o mundo e derramar seu pavor
rastejante sobre as coisas coloridas da vida .
Nem se
seria escuro esse
caos .
Não
sabia dizer se esse
fim estava sendo urgido numa sala celeste , onde os deuses discutiam com
seus investidores um modo viável de esvaziar o
conteúdo do cálice
e por fim
à criação .
Tampouco
sabia se os deuses teriam algo a ver com isso .
Não
sabia dizer se esse
desconforto – que me
parecia em avançado
estágio de consolidação
– viajava sentado na cauda de algum
meteoro lançado a milhões de anos ,
impelido a cruzar o universo para nos abalroar como
se fôssemos um navio
de H. Mellvile.
Não sabia,
sentado em meu
medo infantil , o que seria essa certeza
perversa , tão
nítida no apelo das árvores .
O que seria esse
conhecimento explícito em mim como um amor
inflamado? O que seria essa dor que vinha
escondido no prato de comida e tirava o apetite ?
Que vinha entrelaçado
na fala dos desenhos
animados e enfartava o riso? Onde brotava, num peito
pequeno de menino ,
uma água tão
escura ? Quando
ela rompera o tecido e começara a escorrer pelo corpo ?
Fôra antes de me ver refletido mais vezes
em fundos de privadas
do que em
espelhos ?
Antes de Rimbaud
me seduzir para a venda
como escravo sexual
aos asseclas do rei
de Choa?
Fôra antes de cantar a Internacional , as quartas ,
ao lado de pederastas ,
alcoólatras , poetas
e açougueiros
que ainda acreditavam em
Deus aos domingos ?
Quando
compreendi que não
era o que
se escondia no guarda-roupa que me causava aquele mal , mas
a certeza de que
o mundo – não apenas
eu e as minhas
fraquezas – acabaria?
Então
aguardei a sua consolidação
em noites
de trovões , em dias
de discussão adulta – que
traçavam o rumo de suas
vidas conjugais e a permanência
do eu no limiar
das coisas alegres .
Então o
aguardei impregnando-o de imagens retiradas dos livros
de gravuras . Na fala
da gente humilde ,
sempre a rever na cozinha
seus temores e suas
certezas catastróficas,
complementei minha visão tingindo-a de sangue
humano – substituindo árvores tombadas por homens
tombados.
Não via no rosto das
pessoas esse medo
que me
tirava o sono . Não via
em seus
gestos de prazer uma tentativa
reconfortante de aproveitamento
imediato – o fim
estava próximo , algo me
dizia em forma
de pânico pediátrico
– e haveria mortes ,
talvez fogo nas ruas e
no cabelo das mulheres
– e haveria dor no coração
e nos braços
ensangüentados das enfermeiras.
Não via em seus gestos de ódio uma revolta
consciente ,
um ato de reprovação:
o fim do mundo talvez já
caminhasse nas ruas
escolhendo a dedo uma forma de melhor efetuar a
sua desgraça
– e haveria confusão :
talvez mães chorando crianças
despedaçadas,
e haveria desespero nos olhos do menino
sem mãe
para
consolá-lo.
Não via no choro das
mulheres – tão evidentes
– nem na lágrima seca que rolava quando as crianças
não estavam um choro
ou uma lágrima
a respeito da verdade que a todo instante me redimia a um
único pensamento .
Talvez o fim já houvesse sido deflagrado: lento e preciso, se espalhando pelo
ar, como a sombra de uma nuvem envenenada, apodrecendo sobre as cidades.
Nada se avistava
no tempo, ou nas ruas.
Aguardar, essa
era a palavra de ordem.
*
“E para cada dia bastará apenas o
seu mal”
Mateus 6:25-34
A Lagartixa
Ele escondia os sonhos numa velha gaveta na escrivaninha da sala. Os amores ficavam na estante da sala, agora empoeirados pelo tempo e pelo descaso. As lembranças estavam coladas no mural do quarto, porém desbotadas e desorganizadas. As dores foram espanadas para debaixo do tapete, as vitórias e os tesouros encaixotadas no sótão. As alegrias foram aprisionadas no porão e a felicidade escapuliu pelo ralo do banheiro...
A fé, tão pujante foi expulsa de casa. A esperança que tanto queria adentrar ao recinto fracassava ao topar com as janelas e a portas trancadas. Tudo se foi quando ele deixou de viver. Tudo findou quando se escolheu morrer. Apenas a solidão esfriava suas espinhas, cutucava com dedos ásperos a sua vaga alma, perdida em si, alienada e abstraída do mundo.
Os olhos trancafiaram as belezas mais profundas e incisivas, as bonitezas que se alastravam faceiras pelo seu coração - agora triste e amuado. A chama tinha se apagado e o escuro dominado o seu íntimo ferido e desalmado. Quem o faria? Quem o salvaria? O sangue já não corria tão escarlate quanto antes, nem tão morno quanto deveria. A vida esvaía-se com ferocidade a te sua indiferença pessoal, seu abandono a si.
Mas tudo mudou quando uma pequena e fina luz encontrara um mínimo espaço para penetrar na sala, desvencilhando-se por uma brecha entre a cortina e a janela. A luz incidiu bem em seu peito. Isso o alertou, aqueceu e o inquietou. A poesia e a esperança tinha um jeito estranho de reviver as coisas mortas. Quem ia imaginar que uma lagartixa faria a cortina se mexer o mínimo suficiente para a luz adentrar... Coisas curiosas da vida.
A luz – e a lagartixa - reavivou sua vontade em viver, em ser feliz. Ele saiu do limbo e renasceu ostentando o sorriso mais lindo que já se viu.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Vigília
imagem: friede
é pedra
pedra que
afunda
que amarra
e carrega
para o mais
profundo
desespero.
o desapego
vira delírio
e o
desejo
é vítima
da pedra,
da perda,
da vida
que nos
cerca
e define
o caminho.
posso contemplar
sozinho
o sol do inverno
mas nunca
escapar da pedra
que afunda
me amarra
e inunda
o que antes era certo
mas agora
é demora.
é demais.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Ativistas x Cientistas
Beagles são usados por forças policiais por terem bom olfato. Será que os ativistas resgatarão cães usados por policiais mundo afora?
Embora outros fatos relevantes tenham acontecido no Brasil e no mundo desde a desastrosa invasão do Laboratório Royal por ativistas, acredito ainda que vale a pena discutir esse assunto.
O Brasil está entrando em um caminho perigoso: movido pela inércia do Judiciário e pela corrupção que campeia o Executivo e o Legislativo, a população resolveu não esperar e fazer justiça com as próprias mãos.
O problema é o que cada um entende como justiça.
Nessa semana, dezenas de ativistas pelos direitos dos animais invadiram um laboratório particular legalmente credenciado e roubaram 178 beagles que ali estavam a serviço da ciência; junto com os animais, destruíram também documentos e equipamentos. A alegação era a de que o laboratório torturava os animais e de que o Ministério Público não se pronunciava a respeito.
A primeira vista, é fácil ficar do lado dos ativistas. No entanto, basta um pouco de discernimento e de pé no chão para perceber que a atitude deles prejudicou até mesmo a causa que apoiavam, a de que o Laboratório Royal maltratava os bichos. Agora, sem os animais e os documentos, provavelmente o processo (penal?) será extinto por falta de provas.
Pergunto-me também se o laboratório tivesse convocado cientistas e simpatizantes para fazer frente a invasão. Ou seja: em vez de o Judiciário definir a questão, tudo pareceria se resolver com os grupos se digladiando. Mais Idade Média, impossível.
Não sou especialista em biologia e por isso não posso afirmar se é mesmo possível substituir os animais em toda e qualquer pesquisa. Particularmente, creio que não: programas de computador não me parecem capazes de prever as nuances de cada substância inoculada em um organismo vivo. Os mamíferos em geral são escolhidos para experiências em laboratório justamente por causa disso, visto que sua biologia interna é muito parecida com a dos humanos: todos têm sistemas respiratórios, circulatórios e reprodutivos com os mesmos órgãos que as pessoas.
Em todos os portais de notícias a invasão foi um dos principais assuntos da semana. No Yahoo, que eu costumo acompanhar mais por causa de meu e-mail, foi fácil perceber que cerca de 70% das pessoas que comentavam a notícia apoiavam os ativistas; questionados por alguns dos 30% restantes sobre como os cientistas pesquisariam novos medicamentos sem os animais, as respostas foram estarrecedoras: que se usassem então presidiários.
Embora certamente muitas pessoas não sejam dignas de serem tratadas como humanos, não é rebaixando-as ainda mais que a humanidade evoluirá. Uma das últimas pessoas a levar a sério os experimentos com humanos foi o médico nazista Josef Mengele, e a simples palavra “nazista” ao lado de seu nome já nos faz imaginar as consequências de tais experiências. Ou seja, boa parte dos ativistas parece mesmo acreditar que o melhor é que se usem seres humanos para tais experiências, inclusive não se importando com a eventual morte de tais pessoas. Pretendem criar uma nova ordem mundial e boa parte não se importaria em copiar a ideologia eugenista dos nazistas para tanto.
Em suma, estamos bem de ativistas, hein?
Embora outros fatos relevantes tenham acontecido no Brasil e no mundo desde a desastrosa invasão do Laboratório Royal por ativistas, acredito ainda que vale a pena discutir esse assunto.
O Brasil está entrando em um caminho perigoso: movido pela inércia do Judiciário e pela corrupção que campeia o Executivo e o Legislativo, a população resolveu não esperar e fazer justiça com as próprias mãos.
O problema é o que cada um entende como justiça.
Nessa semana, dezenas de ativistas pelos direitos dos animais invadiram um laboratório particular legalmente credenciado e roubaram 178 beagles que ali estavam a serviço da ciência; junto com os animais, destruíram também documentos e equipamentos. A alegação era a de que o laboratório torturava os animais e de que o Ministério Público não se pronunciava a respeito.
A primeira vista, é fácil ficar do lado dos ativistas. No entanto, basta um pouco de discernimento e de pé no chão para perceber que a atitude deles prejudicou até mesmo a causa que apoiavam, a de que o Laboratório Royal maltratava os bichos. Agora, sem os animais e os documentos, provavelmente o processo (penal?) será extinto por falta de provas.
Pergunto-me também se o laboratório tivesse convocado cientistas e simpatizantes para fazer frente a invasão. Ou seja: em vez de o Judiciário definir a questão, tudo pareceria se resolver com os grupos se digladiando. Mais Idade Média, impossível.
Não sou especialista em biologia e por isso não posso afirmar se é mesmo possível substituir os animais em toda e qualquer pesquisa. Particularmente, creio que não: programas de computador não me parecem capazes de prever as nuances de cada substância inoculada em um organismo vivo. Os mamíferos em geral são escolhidos para experiências em laboratório justamente por causa disso, visto que sua biologia interna é muito parecida com a dos humanos: todos têm sistemas respiratórios, circulatórios e reprodutivos com os mesmos órgãos que as pessoas.
Em todos os portais de notícias a invasão foi um dos principais assuntos da semana. No Yahoo, que eu costumo acompanhar mais por causa de meu e-mail, foi fácil perceber que cerca de 70% das pessoas que comentavam a notícia apoiavam os ativistas; questionados por alguns dos 30% restantes sobre como os cientistas pesquisariam novos medicamentos sem os animais, as respostas foram estarrecedoras: que se usassem então presidiários.
Embora certamente muitas pessoas não sejam dignas de serem tratadas como humanos, não é rebaixando-as ainda mais que a humanidade evoluirá. Uma das últimas pessoas a levar a sério os experimentos com humanos foi o médico nazista Josef Mengele, e a simples palavra “nazista” ao lado de seu nome já nos faz imaginar as consequências de tais experiências. Ou seja, boa parte dos ativistas parece mesmo acreditar que o melhor é que se usem seres humanos para tais experiências, inclusive não se importando com a eventual morte de tais pessoas. Pretendem criar uma nova ordem mundial e boa parte não se importaria em copiar a ideologia eugenista dos nazistas para tanto.
Em suma, estamos bem de ativistas, hein?
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
A dieta do papai *
"Querida, descobri uma coisa legal para perder peso."
"Que bom! O que é?"
"Quando eu cozinho, eu como menos, não sei por quê."
"Sim, querido, quando você cozinha, todo mundo come menos."
______________________________
* Publicado originalmente nos Minimínimos
(http://miniminimos.blogspot.com)
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Notável
Naquela noite que se fez outro dia, a lua estava tão
cheia, de si própria, que mesmo depois de o sol ter se aprumado, ostentoso, ela
ainda desviava a atenção de muitos desavisados.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Fogo, consequências e alguma adoração
“En el fondo, todas las mujeres son putas y quieren que se las trate como putas…
¡Mezclado con un poco de adoración!” (Anaïs Nin - Henry y June)
Deixei de lado as conversas e algumas redes sociais nas quais me entretia deitada na cama, cansada, mas insone. Acontece muito comigo, o corpo pede descanso, mas a cabeça continua inquieta, as idéias pululam. Foi pensando nas possibilidades de não-sei-o-quê que as horas multiplicaram-se, nem vi o sol nascer. Com o calor matinal, adormeci.
...
Chamou uma, duas, três vezes, abri os olhos e ele estava lá, não posso negar que gostei de vê-lo, mesmo depois de tanto tempo, ainda não me acostumei com seus hábitos, sumia repentinamente e da mesma forma retornava aos meus olhos, à minha boca...
-Bom dia.
-Bom dia...
Conferi o relógio, dez da manhã, como gostaria de ter dormido mais!
Na verdade, eu sempre o recebia meio na defensiva, enciumava-me e pensava em perguntar por onde e com quem andou no tempo em que estivera ausente. "Preciso ser mais dura, isso sim!" - prescrevia-me mil mudanças de comportamento, mas nunca conseguia tal façanha. Bastava que a inspiração voltasse para que meu espírito se enchesse de alegria e de uma vontade inconfessa de dizer-lhe apenas que "não há orgulho no mundo que vença a necessidade que sinto de seu toque, ela é tão grande que, em certas noites, converte-se em uma dor física vinda não sei de onde."
Tanto me disseram para não brincar com fogo! Não adiantou, agora é preciso aguentar: o corpo queimando e o coração ardendo são apenas consequências.
-Como você está?
-Com sono...
Afundei a cara no travesseiro, tinha consciência do estado de desordem de meus cabelos, nem eu me animava com minha própria aparência pela manhã. Ele esboçou um sorriso, mas falou sério:
-Então eu vou ter que acordar você.
Respondi com um não prolongado e puxei o lençol, quase escondendo o rosto. Teimoso como só ele, puxou de volta, descobriu-me e aproximou-se.
-Pensei que não queria mais saber de mim...
-Deixa disso.
-Mas é, estava tão distante e...
-Agora estou aqui.
Beijou-me os ombros e o pescoço, sendo terno e ao mesmo tempo quente, ele fazia com que todas as outras coisas do mundo se tornassem secundárias, mas eu sabia que não deveria acumular expectativas para além do momento de entrega. Encarava-me antes e depois de aceitar a boca que eu lhe oferecia, como numa transição, minha ansiedade dava lugar ao desejo crescente e eu deixava sempre que me lesse do início ao fim. Deslizou as mãos em meu busto, por cima do short doll verde, sentiu como me arrepiava os mamilos, meu tesão era a resposta que buscava. Encontrou, satisfeito.
-Deixa-me ver esses seios lindos...
-Não, você prefere os menores, eu li!
-Cala a boca!
Era gostoso dever-lhe alguma obediência, despia-me habilmente e eu sabia que só pensava em como encaixar-se em meu corpo da melhor forma. Afastando-me as pernas, mergulhava em meu sexo e recolhia meu prazer na ponta da língua - assim ele me dava sua adoração.
***
domingo, 1 de dezembro de 2013
Medusa
as pétalas de seus olhos desceram
por minha rubra face
instalaram-se entre minhas clavículas
como aperto de polegares em asfixia
ver o que vi em todas as outras
e não supor que era assim tão óbvia
só nos ferem os que amamos
mea culpa, não tomei
nenhuma precaução
quebro uma promessa que fiz e peço
que me deixe agora
que não congele minhas resistências
nem estilhace o que restou
um espinho ainda está na garganta
não me olhe mais,
nunca mais
quero permanecer pedra
por saber que mal maior é a esperança
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